Fechou a porta sem olhar para trás e chamou o elevador. Não havia lágrimas em seu rosto, embora estivesse quebrada por dentro. Se balançasse, talvez, ouvisse o tilintar dos caquinhos de seu coração. O elevador estava demorando muito, ela queria sair logo dali, que era para não cair em tentação.
Não tinha que voltar. Não havia mais o que fazer ali. Ás vezes a gente tem que saber seguir em frente e deixar quem não nos pertence mais para trás. Mesmo que isso signifique deixar uma parte dela –talvez sua melhor parte, seus melhores anos –ali, naquele prédio (que um dia ela achou que seria aonde moraria e que agora era apenas um monte de concreto cinza e sem graça)
Um monte de concreto que guardava muitas lembranças, muitos sorrisos, muitas histórias, muito amor. E, por isso mesmo, não se permitia chorar ali. Ali só cabia felicidades.
O elevador chegou, ela entrou. Pela última vez, ela sabia. Não doía. Era estranho. Havia só dentro dela um vazio explicável, de quem deixava para trás quatro anos de sua vida, o homem pelo qual dera seu coração e achara que ficaria com ele para sempre.
Não ficou.
Não doía. Era só um vazio. Talvez a ficha não tivesse caído. Talvez porque tinha sido um fim tão bem decidido que a livrava do rancor, do ódio, da decepção, da dor. É que o amor ainda continuava lá, de algum jeito, ela sabia, continuaria para sempre.
Ela sabia que não era o suficiente. Que nem sempre só o amor basta. Faltava algo. Ela não sabia o que, mas sabia que não queria metades. Ela queria um relacionamento inteiro, com tudo que tinha direito.
Saiu do elevador e do monte de concreto, deixando para trás uma parte dela. Não havia lágrimas em seu rosto, talvez um pouco de tristeza, se procurasse bem, se a conhecesse bem. Havia só vazio.
Não ia chorar, ali não cabia lágrimas. Iria seguir em frente, na estrada que se abria a sua frente. Porque sabia que havia algo melhor esperando pro ela. Não sabia exatamente o que, mas sabia que era melhor.
-Porque –ela quase falou em voz alta –Deus sempre nos guarda o melhor, não é?
-Sim –ela ouviu a resposta que vinha de dentro dela -Não se preocupe, menina, há sempre algo melhor a nossa espera. Basta você procurar.
-Vou procurar –ela disse –Mas primeiro, preciso de um café.
Um café quente para espantar um pouco do vazio que havia dentro dela. Para dar forças para seguir em frente. Sem lágrimas. Mas com um coração despedaçado escondido em seu peito. Sabia que devia continuar, porque há sempre algo melhor nos esperando. E ela acreditava nisso. Precisava acreditar.
Quando a paixão não dá certo
Não há porque me culpar
Eu não me permito chorar
Já não vai adiantar
E recomeço do zero sem reclamar
Quando a paixão não dá certo
Coração Pirata -Roupa Nova
Texto da Fernanda Campos pra mim. =)