quinta-feira, 29 de março de 2012

          -Não!

          Sim, eu sabia que estava mentindo. A resposta não era bem aquela. Se fosse honesta comigo mesma deveria responder que sim, que eu havia feito aquilo, que não tinha pensado nas consequências, que havia me equivocado. E então o pediria desculpas. Não pude. O medo de perdê-lo era grande. Sabia que estava encrencada se dissesse a verdade. Eu o amava. Perdê-lo não era uma hipótese. Como poderia viver sem aquele ordinário? Sabia que havia cometido erros e aquele realmente fora mais um deles. Mas quem não erra?

          E ele acreditara. Como pôde? Deveria estar triste ou feliz? Sabia que há tempo ele hão era o mesmo do início do casamento. Todo aquele fervor havia acabado anos após, quando descobrira que era estéril, que de dentro de si não poderia sair vida. Fora a decepção maior. Sua linhagem acabara ali. E não havia mais nada a ser feito. Mas como pôde ele acreditar tão facilmente num simples não? Não lera nos seus olhos a mentira? Os olhos não mentem. Teria se tornado uma atriz tão boa assim que até seus olhos enganavam?

          Mas ainda o amava. Seu coração batia por aquele homem. E ainda que nunca mais a amasse como no começo do relacionamento, ela o amaria para sempre. Sentia ser de outras vidas todo aquele amor. Era cega por ele. Manteria o juramento que fizera no altar naquele fim de tarde de outono para sempre -ou pelo menos enquanto ele ainda a quisesse- por perto. Para sempre... Até o sempre ter um fim.

terça-feira, 6 de março de 2012

Cadê Vinícius?

-Você que é Vinícius? –perguntou o menino todo cheio de estilo na pracinha para um outro que estava sentado mexendo no celular.

-Não. –a resposta veio cortante causando agonia no desconhecido que estava a espera de Vinícius
Andava de um lado para o outro, sem parar. Tentava se entreter ali nos rápidos momentos e não parecer que tinha levado um bolo. Será?

Pega o telefone, coloca o fone de ouvido. Acho que ouvia um rock. Parecia esse o estilo dele. Mas ao que tudo parecia, a música saia daqueles fones meio embolados e não entravam dentro dele. Estava preocupado demais com o Vinícius que não havia chegado até agora.

Tirou o fone. Cadê Vinícius?, pensava. Não achava resposta. Procurou na agenda do seu  celular super moderno o número do tal Vinícius. Ligou pra ele. Murmurou alguma coisa que não consegui ouvir direito. E o que era para ter sido uma tranqüilidade, virou uma agonia maior ainda –ou ansiedade, ou medo, ou qualquer outro sentimento do tipo. Pela sua fisionomia, deduzi que Vinícius estava chegando. E eram esses os momentos de maior aflição. Vinícius estava chegando. Como ele estava? Como ele seria pessoalmente? Como seria sua voz? Tudo bem que já o tinha visto vez ou outra na webcam, mas a voz muda um pouco pelo computador, não é mesmo?!

Agora tentava parecer calmo. Como se tivesse chegado a pouco tempo. Não queria que Vinícius percebesse toda essa reviravolta de sentimentos que se passava dentro dele. Tornou a colocar o fone. Não que passasse a ouvir alguma coisa, mas só para fingir descontração.

Olhou ao longe. Viu que vinha alguém que parecia com aquele garoto que tinha conversado pela internet. Ficou olhando e seguindo-o com seu olhar de quem não quer nada por algum tempo. Vinícius chegou. Estava ali, diante dele. Nada mais tinha importância naquele momento. Estar com Vinícius era tudo que ele queria a tanto tempo e agora finalmente o havia conhecido. E naquele instante, milhares de coisas se passaram em sua cabeça. Era ele, sim, era ele o garoto pelo qual se apaixonara,era ele o garoto pelo qual tinha tantas afinidades e tinha certeza que era aquele o garoto com quem teria uma vida junto.

Se abraçaram. E no curto tempo do abraço, os dois se imaginavam juntos. De repente, desfez-se toda aquela imaginação e rolou um beijo de cada lado da bochecha. Tão rápido, mas tão eterno. Se soltaram. E saíram conversando... com um sorriso indisfarçável estampado no rosto dos dois... e se foram...